(díptico 李楊 [Li Yang]: 盲井 [BLIND SHAFT] e 盲山[BLIND MOUNTAIN])

BLIND SHAFT é um conto de burlões, e da trapaça que no fim se vira contra eles. Adivinha-se cedo o desfecho, mas isso não lhe tira o mérito.

Este filme de 2003 não deixa de me vir à memória todas as (muitas) vezes que ouço na rádio a notícia de mais um desabamento ou uma explosão em uma mina chinesa. É neste cenário de parcos proveitos ganhos debaixo de terra que dois homens montam um esquema de sobrevivência: repetidamente, atraem terceiros (estranhos) para trabalhar com eles, acabando por assassiná-los, o que encobrem com a simulação de um acidente de trabalho. Depois, viram-se para o patrão e reclamam a indemnização pela perda do morto, de quem dizem ser familiares. A próxima vítima é um rapaz jovem e inocente, uma alma virgem cujo propósito maior é juntar dinheiro para mandar para a família.




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BLIND MOUNTAIN expõe um (outro) fenómeno social do norte da China: a venda de mulheres.

Uma jovem rapariga, recém-licenciada, desesperada por não conseguir arranjar emprego, julga encontrar a bóia de salvação na proposta de uma amiga, que lhe acena com a hipótese de trabalhar com um homem que comercializa ervas medicinais, cultivadas em terras remotas do norte da China. Vai finalmente poder ganhar algum dinheiro para mandar para casa, e compensar as maquias que o pai gastou com a educação dela, ajudando também a que o irmão mais novo possa ir à escola.

Ela anui à proposta sem pensar duas vezes, e prontamente se fazem os três à estrada. Depois de uma extenuante viagem, chegados ao local, o casal pede-lhe que espere na aldeia enquanto vão negociar a compra das ervas.

Quando a rapariga dá por ela outra vez, está a acordar numa cama de uma casa local e sem os companheiros de viagem com quem viera. Foi vendida por aqueles, para ser noiva de um agricultor/pastor local.

A queixa que a rapariga apresenta junto da autoridade maior da aldeia é desatendida porque ela não tem documentos de identificação (que lhe foram furtados pelo casal que a vendeu). Numa das suas tentativas de fuga, um condutor não lhe dá boleia porque ela não tem dinheiro para lhe dar em troca. Noutra tentativa, quando ela berra que está a ser raptada, o polícia roga ao grupo de perseguidores que a tirem dali, que estão a interromper o trânsito automóvel.



BLIND SHAFT e BLIND MOUNTAIN são, até agora, os dois únicos filmes de Li Yang. Cada um deles, multi-premiado! Aconselho-os vivamente, e fico ansiosamente à espera de mais.

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