Um disparo. Um instante, mas que nos fica na retina.
Inevitavelmente, o estado de choque.
O atentado que ontem George W. Bush sofreu em Chicago e que nos tem sido insistentemente servido nos meios de comunicação social rivalizará, na memória colectiva, com as outras imagens de terror e tragédia a que assistimos há seis anos, aquando do atentado às torres gémeas do World Trade Center de Nova Iorque.
A poucas horas do fim, 19 de Outubro de 2007 torna-se uma data de referência da história contemporânea.
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No momento em que escrevo este aditamento, já é certo: George W. Bush faleceu.
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Não consigo não me lembrar do assassinato de Jonh F. Kennedy, em Dallas.
Não estava lá, nem assisti a ele. Mas é uma imagem que está embutida na memória colectiva. A preto e branco. A parada. O carro. O casal. O som quase surdo do tiro. Os gritos de horror da assistência... Jackie. Tudo a preto e branco.
Não consigo deixar de pensar nisto.
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Tenho-me abstido de voltar a este texto. Tenho-me obrigado a isso.
Mas não há minuto em que possamos desligar-nos. A América continua a ser o centro do mundo e parece que tudo o mais aguarda para existir. Nas televisões, nos jornais. Não se lê ou ouve falar de mais nada.
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Do imenso rol de detidos daquela noite, as altas instâncias já decidiram quem acusar. O seu nome é Jamal Abu Zikri. Sírio.
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Pelo que tenho lido, visto e ouvido, o circunstancialismo que sustenta a acusação contra Jamal Abu Zikri resume-se ao treino militar que “sofreu” no Paquistão; e aos “resíduos balísticos” que foram encontrados na sua roupa. O escrutínio a que a televisão tem submetido este assunto tem posto em causa a força daquelas provas.
Arrepio-me quando antevejo o julgamento pelo Tribunal de Júri. A recente chamada à colação, nos meios de comunicação social, de um eventual interesse sério do governo sírio em conceber e patrocinar o assassinato do Presidente George W. Bush serve bem a distracção colectiva por que deve clamar quem foi chamado inesperadamente a assumir a presidência – aquela presidência.
A condenação em Tribunal é inevitável. Qualquer outro resultado seria a vergonha de uma Nação.
Dick Cheney sabe-o. Os juízes sabem-no. A advogada de Jamal também o sabe, tenho a certeza.
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Ontem vi “Death of a President” e decidi voltar a este texto – volvido um ano.
Passado todo este tempo, este documentário traz à luz a possibilidade de o assassino ter sido, afinal, Al Claybon, militar reformado, pai de dois militares, um dos quais falecido no Iraque. Fica a dúvida, não a certeza.
A certeza, essa, só Jamal Abu Zikri a tem – a de ter sido condenado e de saber que não há maneira de fugir ao seu destino: a morte, pela morte de um presidente; pela estabilidade de uma Nação.
Ainda mais impressionante é o desespero da mulher de Jamal, que repetidamente questiona: porque é que o responsável não parou um momento para pensar antes de premir o gatilho? As consequências do acto praticado são de facto incomensuráveis; e, a ela, tiraram-lhe tudo.
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Segundo Cheney, o combate à insegurança na Nação foi o que o levou a extremar o Patriot Act de Bush; mas eu sinto-me menos. Tenho medo; e aqui me calo.
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